
Até novembro, o coletivo negro Azuka realiza uma série de apresentações gratuitas para crianças na zona leste de São Paulo com o projeto “O sol nascerá”. A iniciativa promove contações de histórias inspiradas no álbum Canções Praieiras (1954), de Dorival Caymmi, mesclando literatura infantil e Libras (Língua Brasileira de Sinais) em um espetáculo bilíngue, inclusivo e poético.
O grupo nasceu da necessidade de construir um espaço de mediação entre surdos e ouvintes, e tem como propósito democratizar o acesso à arte por meio da oralidade, da acessibilidade e da valorização da cultura popular brasileira. “As músicas de Dorival Caymmi são a base para a criação das histórias. É a partir das narrativas poéticas presentes em suas canções que a trama nasce, guiada pela sensibilidade e pela beleza lírica da obra dele”, explica Victória Oliveira, integrante e idealizadora do projeto.
Em “O sol nascerá”, a música ganha novas formas de expressão: sons se transformam em sinais, imagens e movimentos, criando um universo em que crianças surdas e ouvintes compartilham a mesma experiência estética. “O projeto cria um espaço em que a cultura musical brasileira se traduz em múltiplas linguagens. Para as crianças surdas, a experiência não é uma tradução literal da música, mas uma recriação que valoriza a estética da Libras, do ritmo corporal e da imaginação visual. Para as ouvintes, amplia-se a escuta ao incorporar outras formas de linguagem”, completa Victória.
As apresentações dialogam com a leveza do mar, a fluidez das ondas e a paixão presentes nas canções praieiras de Caymmi, recriadas em narrativas acessíveis e sensíveis. Para o coletivo Azuka, a obra do compositor baiano traduz a simplicidade e a profundidade da cultura popular, além de despertar o encantamento a partir de pequenos gestos — princípios que norteiam a proposta do grupo. O projeto também tem um forte recorte territorial: as contações acontecem em equipamentos culturais das periferias da zona leste paulistana, ampliando o acesso das crianças à literatura e à arte em suas diversas formas.
Ao longo de sua trajetória, o coletivo já homenageou nomes como Cartola e Clara Nunes. Em breve, levará às crianças uma contação inspirada na obra de Dona Ivone Lara, ressaltando o empoderamento da mulher negra e a mensagem de que sonhos de meninas podem, sim, se tornar realidade.